Quando alguém ou algo nasce, recebe um nome que o representa. O nome carrega a alma, o espírito, e é parte importante da identidade.

Quando concluí meu projeto, percebi que era algo inédito. Não queria que o nome fosse o meu, Priscila, pois a ideia básica do projeto era de um produto feito por várias mãos, inclusive a do usuário. Acredito que quando vamos apresentar algo novo, precisamos preparar as pessoas para isso. Elas precisam estar abertas para receber a novidade. Tinha que ser um nome que gerasse curiosidade, que aguçasse a imaginação. Algo original.

 

Eu sempre fui apaixonada por sapatos, mas não tinha grandes conhecimentos sobre eles tanto no contexto histórico, econômico ou regional. Não conhecia a complexidade da indústria calçadista. Mergulhei então nesse universo de corpo e alma. Fui estudar sapatos, a história dos calçados, e principalmente a trajetória da indústria brasileira. 

Nessa minha busca descobri que a imigração italiana foi uma das precursoras da nossa indústria calçadista. Ao mesmo tempo tinha o conhecimento da importância do design italiano pós-guerra que se sedimentou mundialmente como referência. No campo dos calçados não foi diferente: até hoje, dizer que um calçado é italiano é atestar sua qualidade e a certeza de um bom desenho.

Na época em que iniciei o projeto, em 2005, o mundo passava por grandes mudanças, e a China era um enorme mercado em ascensão. Era invejável como grande produtor de uma variedade inimaginável de produtos a preços extremamente baixos. A indústria calçadista brasileira, que até o momento era um grande exportador de calçados de qualidade para os grandes centros mundiais, estava sofrendo um revés. Perdia mercado internacional e começou a exportar tecnologia e mão de obra qualificada para a China. Houve uma invasão de calçados chineses no mundo e no mercado nacional não foi diferente. 

Itália e China... 

Eu sempre acreditei que quando estamos muito envolvidos com um projeto nos apaixonamos por ele e isso pode ofuscar a visão do todo. Por isso, em todos os meus trabalhos de comunicação ou identidade visual, sempre procurei me afastar um pouco do projeto, deixar a ideia repousar por um tempo antes de finalizá-la, ou mesmo – se fosse uma imagem - olhá-la no espelho para ver o outro lado. Isso contribuía para aperfeiçoar o conceito.

 

Com o meu projeto nascendo e para “enxergá-lo por inteiro “decidi fazer uma viagem. A Itália e China tinham me chamado a atenção desde o início. A Itália me era familiar. Primeiro por ser descendente de italianos e por ter tido a oportunidade de viajar algumas vezes para esse país.  Estava então na hora de conhecer um pouco mais de perto a longínqua China. Aquele mundo distante, desconhecido e tão fantástico em nossa imaginação. Foi uma viagem impactante e muito rica. 

Um dia, passeando em um bairro chinês em Shanghai (sim, bairro chinês dentro da China! O âmago do âmago!) Um camelô surgiu em minha direção vendendo um relógio de pulso que tinha a figura do Mao dando “tchau”. E quando olhei, aquilo me atingiu como um raio! ... Ciao Mao!! 

“Muitas vezes a solução mais perfeita é aquela que parece “cair do céu”, que flui em um momento de distração, e suavemente se encaixa no meio das peças existentes, dando sentido ao todo.”

O nome foi soprado em meu ouvido, com sua sonoridade perfeita. 

Ciao em italiano é uma palavra de movimento. Ir e vir. Pode ser usado tanto para quando encontramos alguém, ou para quando nos despedimos. O calçado é um meio de transporte e só tem sentido se usado para nos movimentar: ir e vir.

Mao, representando a China antagônica. Os dois lados. O esquerdo e o direito. A China milenar, que tem a riqueza de grandes sabedorias, do exótico e do ancestral, do berço da cultura. O Mao do Bem e do Mal. E sem dúvida o maior mercado a ser conquistado!

E as peças se encaixaram.

Sei que a origem do nome não é clara para todos, e nem é para ser. Acho, entretanto, até interessante as pessoas questionarem “de onde é a marca?” e ficarem surpresas por sermos 100% brasileiros. 

E para quem procura saber, essa é a lógica do que para mim foi intuitivo.

Itália e China. Qualidade e singularidade. Para um produto 100% brasileiro, onde a miscigenação do povo e da cultura é a grande riqueza. 

O vermelho como cor. Nada mais brasileiro que a força do Pau-Brasil. 

Ciao Mao. Um nome pra chamar de seu.