“Das coisas nascem coisas” é o nome de um livro com o qual estudei na faculdade, do Bruno Munari, que “ensina o projetar”, e é mais ou menos como prático a criação e desenvolvimento de um produto.

Eu sou uma coletora. Adoro agregar coisas para fazer um projeto, ao invés de simplesmente desenhar um sapato e depois mandar fabricar a matéria prima que se ajuste à cor X ou à espessura Y que imaginei.

Eu faço o contrário. Como a minha maior matéria-prima é o couro, vou a curtumes e lojas examinar materiais já produzidos. Materiais que já foram desenvolvidos, já impactaram o meio-ambiente, já existem. E então, olho, toco, sinto e me pergunto: “O que ele quer ser?”; “Para que ele serve?”. E ouço a inspiração que vem dessa busca. Coleto, agrego, transformo, guiada por essa voz. Da mesma forma, para todas as partes do calçado; não só com o couro, mas também com todas as matérias primas possíveis para o projeto. Observo e junto o que existe da melhor forma possível para formar um produto harmonioso, de qualidade. Não só visualmente, mas que cumpra sua função. Não sou uma estilista, sou uma designer. Mas quando a junção tem sentido, acaba tendo um valor estético também, e se torna atemporal.  Minha intenção é desenhar mais que um produto de moda, mas sim um calçado funcional, que vai abrigar o pé de alguém, ajudar a caminhar com segurança. Um produto harmonioso com qualidade. Isso é luxo, muito mais que ornamentos ou brilho. Assim é que se cria na Ciao Mao.

Gosto de fazer uma analogia sobre esse processo, comparando-o a comida. Um bom chef vai atrás de bons ingredientes, junta-os de forma correta, na porcentagem correta, não só para fazer um prato bonito, mas para criar uma refeição que seja gostosa e saudável. A mistura certa é que faz a boa receita.

Mas sim, tem a cereja do bolo.

Os acessórios são partes removíveis dos calçados. São funcionais, mas têm um apelo visual forte. Neles é possível utilizar materiais diversos, produtos mais delicados e até artesanais; além  de sobras de outros materiais que pela quantidade e propriedades não serviriam para a construção da base, mas que têm um valor estético interessante. E esses restos são também cuidadosamente coletados e se tornam o “aguçador de apetite”. Mais do que isso, tornam-se o toque especial, a expressão individual de cada um. Aqui, o trabalho de coleta é transferido ao consumidor, que seleciona o que mais o representa dando continuidade ao processo. Nascem novas expressões em um produto base, agora como resultado das escolhas do usuário.

E então, mais uma vez, das coisas nascem coisas.