Ao olharmos um produto pronto, dificilmente imaginamos tudo que envolveu sua produção. Na verdade, poucas vezes paramos para pensar nisso. Pressupomos que as máquinas cospem as coisas e pronto!
A primeira vez que me surpreendi com a complexidade dos processos de fabricação, foi quando trabalhei em uma consultoria para uma empresa de chocolates, e fui visitar sua fábrica.
Eu gostava muito, especialmente de um dos bombons que produziam, que vinha com uma cereja dentro. Eles tinham dois bombons desse tipo. Um deles bem mais caro. Apesar de achá-lo caro demais, realmente era possível sentir a diferença entre eles – o paladar era diferente apesar dos ingredientes serem exatamente os mesmos.
Ao visitar a fábrica e acompanhar o processo de fabricação, pude entender a diferença de sabor e preço. O bombom mais barato era produzido por máquinas; o caro era feito manualmente. A cereja no marrasquino era retirada da barrica, mergulhada no chocolate pelo tempo certo, retirada para esfriar e depois mergulhada novamente, tudo feito com cuidado por mãos treinadas. E isso fazia toda a diferença no resultado final.
Presenciar isso me fez valorizar o produto e entender seu custo.
Quando entrei no universo dos sapatos, essa complexidade na fabricação voltou a me surpreender. Ainda mais. Eram muitos processos, muitas mãos, muitas pessoas, muita energia despendida. Desde a produção da forma, seleção dos componentes – borracha, couro, tinta, graxa, cola, linha...– até a fabricação, o aperfeiçoamento de cada item. A energia gasta para tudo isso – de mão de obra, máquinas, transporte – é gigantesca!
E então, ao perceber o impacto desse processo, uma escolha ficou muito clara para mim. A opção por qualidade. O trabalho e energia para a produção dos meus calçados seria a mesma, independentemente do material escolhido. Minha opção então foi pelo mais nobre e mais durável: o couro – que garantiria tanto prazer quanto durabilidade. Além de ser também uma alternativa mais sustentável, por não ser descartável.
Talvez nem sempre os olhos possam distinguir a diferença entre dois produtos, como no caso do bombom. E talvez nunca imaginemos as razões e complexidade de escolhas que processos envolvem. Mas seja ao degustar, no caso do chocolate, ou ao sentir o conforto e durabilidade que proporciona um calçado de qualidade, não é preciso ver – nossos pés sentem!